Como é o dia a dia de uma Escola Mais Segura em Santa Catarina
A sargento Cláudia gosta de chegar todos os dias um pouco antes do horário oficial do trabalho. Os portões da Escola de Educação Básica Aldo Câmara, em São José (SC), abrem pontualmente às 7h30 todos os dias. Ela gosta de preparar o dia de trabalho com calma. Começava uma nova missão, agora dentro de um colégio, ao sair da reserva da Polícia Militar de Santa Catarina pelo senso de dever com a comunidade em que cresceu e se formou. Ela atuou na segurança catarinense por mais de 30 anos.
A policial dentro da escola transformou para melhor o dia a dia da comunidade escolar. Até em pequenos atos. “Faltavam 15 minutos para as 7h, e eu perguntei pra ele. Se o senhor quiser ir trabalhar pode deixar a criança aqui, pode ficar tranquilo que quando abrirem os portões, eu coloco pra dentro. Hoje eles se sentem seguros de deixar os filhos ali comigo”, conta.
A presença da polícia dentro da escola estadual ocorre após a repetição de uma tragédia em Santa Catarina. O Governo do Estado deu uma resposta rápida ao ataque a uma creche particular em Blumenau. A gestão está atuando para colocar um policial armado em cada uma das escolas estaduais com o programa Escola Mais Segura, um projeto multidisciplinar que envolve várias secretarias e órgãos públicos.
“Fui a primeira voluntária do 7° batalhão e o comando se preocupou em nos apresentar à direção do colégio. Teve muita curiosidade e muitas perguntas. No primeiro dia eu passei em todas as turmas para falar do projeto, do programa em si do governo do Estado e da preocupação com a Segurança Pública para que não ocorram mais em nosso estado casos tão lamentáveis”, destaca Cláudia Fraga, 52 anos, terceiro sargento da PMSC.
Quando a policial conversou com a ACN para esta reportagem especial, fazia uma semana que ela tinha começado a atuar na escola, no início de julho. Mas para todos que trabalham no local, a impressão era de familiaridade.
“É como se ela já estivesse aqui há muito tempo. A gente sentiu a comunidade mais segura. Os dias têm sido mais tranquilos depois que ela chegou aqui, confesso”, conta Marciléia Izabel Pereira Santos, diretora-geral da EEB Aldo Câmara.
Centenas de policiais da reserva decidiram deixar a reserva remunerada para atuarem na segurança das escolas catarinenses. Todas as regiões de Santa Catarina já contam com profissionais dentro dos colégios estaduais. Esse é o relato de um dia de apenas um desses profissionais que ajudam a transformar centenas de vidas.
“Estamos alcançando resultados positivos, com o aumento significativo da segurança escolar sendo percebido em todo o estado. Há uma previsão de ampliação gradativa do programa até o final do ano. Paralelo a isso, nossa missão vai além e junto com a Secretaria da Educação buscamos diminuir a situação da violência externa e também interna que infelizmente sabemos que atinge o entorno escolar”, afirma o secretário estadual da Segurança Pública, Paulo Cezar Ramos de Oliveira.
Carinho e expectativa
A sargento Cláudia fez questão de mostrar os mimos que recebeu de alguns dos 609 alunos nessa primeira semana de contato no colégio. “Eles são muito tranquilos. Me dão cartinhas, presentes, bombons. Se preocupam em trazer flores”, conta enquanto mostra os recados. O bilhete da turma 44, em uma letra que busca o “redondinho” dos cadernos de caligrafia, resume bem o sentimento geral: “Obrigado por cuidar de nós”.
Para a policial, a atuação que ela realiza hoje mostra a importância dos estudantes gostarem mais da polícia e de todas as forças de Segurança serem mais presentes na comunidade para que a sociedade acolha as ações necessárias por parte do Poder Público. “Saber que o policial é a segurança, a salvaguarda de um município. O policial está presente, ele não tá só com a farda parado. Pela manhã ajudamos a fazer o trânsito, aqui dentro garantir que eles se sintam bem protegidos”, conta um pouco mais sobre o trabalho no Escola Mais Segura, completando: “Eles trazem o pai e a mãe e apresentam, ‘essa é a tia Cláudia, agora você não precisa mais me trazer porque eu tô protegido’”.
O Programa Escola Segura tem a participação de todas as forças da Segurança – Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Científica -, além das secretarias da Segurança Pública e da Educação. Ele foi anunciado em abril, aprovado pela Assembleia Legislativa em maio e implementado nos meses seguintes gradualmente dentro das escolas do estado.
Mesmo que uma escola ainda não tenha um policial específico em atuação, está reforçado desde a tragédia o policiamento nas escolas. Aquelas unidades que não contam até o momento com o policial da reserva previsto no programa contam com a ronda da segurança escolar diariamente, informa a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.
As escolas estaduais também contam com vigilância eletrônica e com uma equipe multidisciplinar para a prevenção de violências e o estímulo à cultura de paz, do Núcleo de Educação e Prevenção às Violências na Escola (NEPRE), formado por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos.
“O programa foi muito bem aceito desde o momento em que ele foi anunciado, mesmo antes dessa segurança chegar na escola, os pais estavam muito ansiosos. Os alunos também. A gente estava esperando ansiosamente. Foi bem impactante para nós. A recepção dos pais foi muito positiva, dos alunos mais ainda. Eles acolheram a policial melhor até do que a gente esperava”, explica a diretora.
Prata da casa
A escolha para participar do programa Escola Mais Segura é voluntária por parte dos profissionais. Podem ser servidores da PMSC, da Polícia Civil, dos Bombeiros Militares e também da Polícia Científica. E o que tem ocorrido é uma busca de quem já conhece bem a escola para proteger o futuro de quem a está descobrindo hoje.
“A gente tem um grande orgulho. Gostaria de frisar que a nossa policial foi aluna da nossa escola. Isso está servindo também de exemplo pros nossos alunos, eles sempre perguntam como era a escola na época dela”, conta a diretora Marciléia, da EEB Aldo Câmara.
O relato da sargento Cláudia também é carregado de emoção: “Esse colégio aqui é o meu de referência, eu fiz da primeira à oitava série aqui. Então foi uma escolha do coração. Eu voltei à minha origem de ensino na própria escola em que eu me formei”.
É o caso também da escola de educação básica estadual Galeazzo Paganelli, situada na comunidade de Campina da Alegria, no município de Vargem Bonita. O sargento designado para atuar no local é ex-aluno do colégio.
PMSC nas Escolas
A Polícia Militar de Santa Catarina tem uma longa tradição de atuar de forma conjunta com as escolas. A instituição desenvolve várias ações que, juntas, são chamadas de Rede de Segurança Escolar.
Apenas neste ano, até o mês de julho, foram atendidas 4.286 escolas, das quais 2.986 foram escolas públicas e 910 escolas privadas.
São iniciativas como a ronda escolar, as consultorias preventivas ao crime escolar, o projeto Estudante Cidadão, entre outras. O projeto mais antigo é o famoso Proerd, sigla para Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, realizado há 25 anos pela Polícia Militar, desde 16 de março de 1998.
Assessoria
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